Como a mineração ilegal causou uma crise humanitária na Amazônia
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Como a mineração ilegal causou uma crise humanitária na Amazônia

May 28, 2023

Crianças desnutridas em uma aldeia Yanomami. Sumaúma

A invasão de garimpeiros ilegais em território indígena na Amazônia brasileira destruiu florestas, poluiu rios e trouxe doenças e desnutrição para o povo Yanomami. Agora, o novo governo brasileiro está enfrentando uma crise de saúde e se movendo para expulsar os garimpeiros.

Por Jonathan Watts e Talita Bedinelli • 2 de fevereiro de 2023

Peito magro, barriga inchada, membros como paus - as imagens de crianças e idosos desnutridos que surgiram nas últimas semanas das terras indígenas Yanomami na Amazônia brasileira lembram o pior das fomes na Etiópia, Sudão ou Coréia do Norte. O desastre humanitário nessa região florestal, no entanto, não foi causado por quebra de safra ou guerra, mas por mineração ilegal e negligência genocida do Estado.

Uma investigação de nossa plataforma de notícias Sumaúma, com sede na Amazônia, descobriu que 570 crianças com menos de cinco anos morreram de doenças evitáveis ​​nos últimos quatro anos, um aumento de 29% em relação aos quatro anos anteriores. Uma criança faminta de três anos pesava menos de 3,5 quilos, mais ou menos o tamanho que normalmente seria esperado de um recém-nascido saudável. Outros vomitam vermes. Com pouca comida e sem remédios, a diarréia e a pneumonia tornam-se doenças fatais. A causa principal é uma invasão de garimpeiros ilegais, que trouxeram doenças, violência e degradação ambiental.

"Esta é uma crise humanitária muito grave. A pior da minha vida", nos disse Junior Hekurari Yanomami, chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana. "Todo mundo está doente. Há sérios problemas de alimentação. Os mineiros contaminaram a água. Precisamos que eles saiam."

A crise no maior território indígena do país é agora o primeiro grande teste ao compromisso do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em restaurar a resiliência da floresta e de seus guardiões. Após a tentativa de golpe de 9 de janeiro em Brasília por uma multidão de extrema-direita leal ao presidente anterior, Jair Bolsonaro, também é uma chance para o novo governo demonstrar que está no controle e pronto para prestar mais atenção à proteção da Amazônia em vez de do que explorá-lo.

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No cerne da questão está um entendimento antigo entre os ambientalistas de que a melhor maneira de proteger a floresta é proteger seus habitantes tradicionais. Os povos indígenas fazem parte de seus habitats, são especialistas na gestão sustentável dos recursos e estão em melhor posição para se defender contra a invasão das indústrias extrativas. Inúmeros estudos comprovam isso, mas só agora, no novo governo Lula, o Brasil, a nação mais biodiversa da Terra, se compromete a colocar isso em prática, dando mais terra e poder aos povos indígenas e prometendo usar o poder do Estado para protegê-los.

Desde o primeiro dia de sua presidência, Lula disse estar preparado para tomar as medidas necessárias para defender a floresta tropical e seus habitantes. Em seu discurso de posse em 1º de janeiro, ele disse: "Os povos indígenas ... não são obstáculos ao desenvolvimento - eles são os guardiões de nossos rios e florestas e uma parte fundamental de nossa grandeza como nação". Anteriormente, ele havia insinuado ao Congresso que seu governo expandiria as terras indígenas: "Cada terra demarcada é uma nova área de proteção ambiental. Devemos respeito aos povos indígenas. Vamos repelir todas as injustiças contra os povos indígenas."

Essas fotos foram feitas em território Yanomami por indígenas e agentes de saúde nos últimos meses. Sumaúma

Os povos indígenas são essenciais para as metas de Lula de desmatamento zero, fim da expansão da fronteira agrícola e proteção de todos os principais biomas do Brasil, que incluem não apenas a floresta amazônica, mas também o Cerrado, o Pantanal, o Mata Atlântica, Campos dos Pampas e Caatinga semiárida. Esta é uma mudança histórica de direção. Desde que os primeiros invasores europeus chegaram, há mais de 500 anos, o lugar do Brasil na economia global foi definido pela extração de recursos e invasões cada vez mais profundas em biomas e terras indígenas.